O folclorista Gustavo Barroso (1888-1959), em O Sertão e o Mundo, escreve que a comemoração a que tradicionalmente chamamos festa de São João não é brasileira e muito menos católica. Ela é tudo o que há de mais profundamente humano e de mais visceralmente pagão. Velha como o mundo, se tem transformado ao sabor de cada meio e ao gosto de cada povo.
As milenares festas remontam a tempos bem anteriores à rememoração católica dos santos a cada dia de cada mês. Fontes apontam como provável origem dos festejos a celebração dos solstícios de verão, na França, em meados do século 12.
Gustavo Barroso, no livro citado, defende que devemos levar em consideração também as mais antigas festas em louvor de Agni, deus hindu do fogo (segundo o dicionário Houaiss, Agni é o fenômeno e a divindade do fogo, na mitologia védica).
A festa de São João é a festa de Agni, do fogo, a festa que comemora o solstício do verão, escreve Barroso. Lembra que, no século 7, antes de a Igreja popularizar o lado cristão das comemorações juninas, Santo Elói, em plena Idade Média, condenava aquelas festas “pagãs”:
“Não vos reunais”, dizia ele, numa encíclica aos diocesanos, na época dos solstícios. “Nenhum de vós deve dançar, ou pular em torno do fogo, nenhum de vós deve cantar no dia de São João. Porque essas canções são diabólicas!”
No Brasil, trazidas pelos portugueses com seus costumes europeus, as festas ganham ares de regozijo igualmente pelo período das colheitas, início do ano agrícola. O solstício de verão deles se torna o nosso solstício de inverno. A isso, somam-se aos poucos o sentido religioso introduzido pelo cristianismo, os costumes dos indígenas e os dos escravos africanos.
Assim, as festas juninas constituem produto único e nacionalíssimo, resultado de toda essa mistura de influências.
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